Resenha Crítica do documentário “O Dia que durou 21 anos” (PT-BR)


O documentário intitulado “O dia que durou 21 anos”, retrata os bastidores da provável participação americana no golpe militar de 1964 no Brasil. Após a revolução cubana o governo americano não mais admitiria a que nenhum país na américa latina adotasse o regime comunista. E como o Brasil era o país que mais se destacava nessa parte do continente, pois tinha potencial econômico e político, a preocupação do governo norte americano foi ainda mais evidente.

O diretor do filme mostra vários documentos escritos e gravações de áudio para comprovar a articulação da CIA, por meio do então embaixador Lincoln Gordon, que foi personagem essencial nessa etapa do processo. O embaixador, um professor americano que já trabalhava no Brasil, foi indicado por saber falar português, ele era um economista da universidade de Harvard, ele é mostrado como um homem paranóico que instiga a todo momento uma conspiração e deposição do presidente João Goulart.

Na primeira parte o filme mostra todo o processo de desestabilização política e social promovida com massivo apoio financeiro dos EUA. Destacam-se duas instituições que serviram de instrumento para promover o descrédito do atual presidente João Goulart, o IPES, um instituto progressista e o IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrática que financiava uma forte oposição a Goulart, por meio de financiamento de políticos com dinheiro vindo dos EUA. Assim a CIA criou um grande esquema, financiando políticos, organizações e propagandas para conquistar a opinião pública.

No meio desse processo o presidente Kennedy foi assassinado, o sucessor Lyndon Johnson simplesmente continuou com os procedimentos do antecessor. Na segunda parte do documentário, pela primeira vez, aparecem depoimentos de pessoas contrárias às ações de Goulart e toda parafernalha de cunho socialista, como por exemplo o então General do Exército Brasileiro Newton Cruz. Eles falavam das ações totalitárias e populistas tomadas pelo governo de Goulart. No decorrer do documentário fica claro que essas pessoas apoiaram o golpe apenas no início e se arrependeram.

É interessante notar a intencionalidade do diretor do documentário nos depoimentos contra e a favor ao golpe, quando aparece alguém que apoiava o presidente João Goulart o fundo musical é alegre e festivo, mas quando o depoente era um apoiador do golpe o fundo musical muda drasticamente para tons de suspense quase que de terror. Isso deixa explícito a posição ideológica de onde fala o diretor do filme.

Outro personagem de destaque no golpe militar foi o novo general do exército, Castello Branco que contribuiu com as ações militares do governo americano na costa do Brasil.

O documentário mostra todo o desfecho do golpe e cita depoimentos de pessoas que lamentam a passividade e falta de resistência de ‘Jango’. Mostra também o esquema militar montado para caso houvesse resistência ao golpe.

Na terceira parte do documentário é narrado como foram os primeiros anos após o golpe, o reconhecimento imediato dos EUA do novo governo e a posse de Castello Branco, que já era o escolhido para governar desde os primórdios da conspiração. Mostra a instituição do ato nº 2 que eliminou as eleições e garantiu a permanência no poder a custo de privação de liberdade de toda a sociedade. O Ato Institucional nº 5 é instituído por Costa e Silva, o ato violava completamente os direitos democráticos dos cidadãos por meio de prisões arbitrárias, torturas e repressão. 

O documentário traz supostos documentos e depoimentos que comprovam a ativa participação Norte Americana durante o processo de revolução e faz um panorama geral dos seus desfechos. Dentre os pontos questionáveis, desta-se que o documentário mostra a história apenas sob uma ótica e em nenhum momento cita sequer uma palavra sob a ação subversiva de agentes soviéticos no país nesse período. Apesar de ter alguma relevância, o documentário deixa a desejar em relação a pluralidade de idéias, pois é inteiramente pautado em um ponto de vista único.

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